Manifestantes em Buenos Aires também denunciaram as
políticas de ajuste econômico e a repressão a manifestações promovidas pelo
governo Macri.
Do Opera Mundi
Cerca de 300 mil pessoas foram nesta quinta-feira (24) à
Praça de Maio, em Buenos Aires, lembrar os 40 anos do último golpe de Estado na
Argentina. Organizações de direitos humanos, movimentos sociais e políticos e
sindicatos realizaram hoje a Marcha pela Memória, pela Verdade e pela Justiça,
que acontece todos os anos nesta data para homenagear as vítimas da última
ditadura argentina e para renovar a luta contra o autoritarismo e em defesa das
conquistas sociais no país.
Em meio à visita do presidente norte-americano, Barack
Obama, ao país, movimentos sociais lembraram os vínculos dos EUA com a última
ditadura (1976-1983) e denunciaram o retrocesso no discurso sobre justiça para
as vítimas do terrorismo de Estado, as políticas de ajuste econômico e a
repressão a manifestações promovidas pelo governo do presidente Mauricio Macri.
Jonathan Thea, 32 anos, da organização Seamos Libres,
acredita que a marcha de hoje é especial não só pelo aniversário de 40 anos do
golpe de Estado, mas também pela mudança nas reivindicações. "Sempre
marchamos para recordar os 30 mil desaparecidos, para pedir o julgamento e a
punição para militares e civis envolvidos no terrorismo de Estado. Hoje, também
queremos exigir que não voltem a aplicar medidas econômicas como as que a
ditadura impôs, que é o que Mauricio Macri está fazendo".
"A implementação de um modelo econômico imposto pelos
EUA há 40 anos também foi parte da aniquilação de um modelo político na
Argentina e na América Latina", avalia Jonathan.
Matias Gallastegui, 27 anos, milita na organização El
Hormiguero, que atua em diferentes favelas de Buenos Aires. Para ele, hoje
"é um dia mais de luta" no que considera "uma batalha cultural e
simbólica contra o macrismo".
Gallastegui vê um retrocesso no discurso do governo
argentino em relação às políticas de memória, verdade e justiça. "O
governo impõe sua simbologia, a ideia de que é preciso 'olhar pra frente' ou
'esquecer o passado'".
O militante acredita que a visita de Obama durante o
aniversário do golpe de Estado é parte de uma estratégia de impulso ao
conservadorismo na América Latina. "Enquanto Macri toma medidas
antipopulares, o presidente dos EUA vem felicitá-lo por elas".
Nicolas del Caño, deputado federal pela FIT (Frente de
Esquerda dos Trabalhadores) e ex-candidato à Presidência argentina nas eleições
que levaram Macri ao poder, reclama o fim das medidas de ajuste econômico e
acusa Obama de promover o "imperialismo norte-americano, que foi aliado,
junto com empresários locais, do golpe de Estado".
O representante da esquerda trotskista considera
"fundamental o rechaço ao protocolo antimanifestação [aprovado pelo
governo Macri em fevereiro], que tenta calar as vozes de quem resiste às
demissões em massa".
Para Susana Etchegoyen, do movimento Etxera (“À casa”, em
basco), a visita de Obama ao Parque da Memória na manhã desse 24 de março é
"uma provocação". "Só a maturidade do povo argentino pôde evitar
que esse gesto tenha se ocasionado uma tragédia", acredita.
A militante da organização de solidariedade aos presos
políticos bascos afirma que "40 anos depois, o inimigo passeia por Buenos
Aires". Ela considera a marcha de hoje especial porque "é a primeira
vez que acontece com um governo que participou do golpe".
Via - Brasil de Fato
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