"No Brasil nunca houve governo de esquerda! E quem diz o
contrário desconhece ou distorce a história deste país".
Foto de:(Claudinei Chitolina) Arquivo Pessoal - Via Editora Santuário |
Por *Claudinei Chitolina
Embora o PT tenha suas raízes históricas na ideologia
marxista (leninista e gramsciana), no movimento sindical, na Teologia da
Libertação e nas CEBs, o governo petista (de Lula e Dilma) resultou de um amplo
consenso de classes. Por isso dizer que os governos Lula e Dilma não foram
propriamente de esquerda, porque ser de esquerda significa instaurar do ponto
de vista político um outro projeto de sociedade (nos termos de Marx) e não
apenas um novo projeto de governo.
A mudança de partido político no comando de
um país ou no exercício do poder não é o mesmo que mudança de projeto político.
O neoliberalismo tem diferentes matizes. Não se pode confundir projeto político
com programa de partido político. O governo Dilma também não foi e não é de
esquerda como poderíamos supor, porque está claro o seu compromisso com os
banqueiros e latifundiários (com o setor do agronegócio).
Aliás, no Brasil, a
burguesia que se instalou historicamente no poder é da pior espécie; é da
espécie reacionária, porque nunca precisou fazer revolução (lutar para derrubar
um regime político e econômico ou para transformar as estruturas da sociedade)
tal como ocorreu na Europa. Não é a esquerda que implodiu, mas a direita que
sempre esteve no comando e nos desmandos deste país.
A falta de perspectiva
política que ora se apresenta para a sociedade brasileira tem suas raízes mais
profundas tanto nos partidos políticos brasileiros quanto no sistema econômico
capitalista que rege e determina o jogo político segundo seus interesses. Os
políticos são os porta-vozes ou representantes do poder econômico que subjuga o
poder político. Somos obrigados a concordar com Marx, que o Estado nas sociedades
capitalistas tornou-se um balcão de negócios da burguesia.
Negar este fato, é
desconhecer as entranhas ou a lógica de funcionamento do sistema econômico
capitalista que explora, expropria e exclui os trabalhadores dos bens do
progresso e degrada os recursos naturais. Democracia e capitalismo são termos
incompatíveis, porque a igualdade política e jurídica pressupõe a igualdade
econômica. Daí poder-se dizer que o analfabeto político não é necessariamente
aquele que não sabe ler e escrever, mas aquele que não sabe porque muitos não
sabem ler e escrever. A opressão ou dominação mais eficaz é aquela que o
indivíduo se autoimpõe.
E a este fenômeno denominamos em filosofia de ideologia
(ver o mundo de ponta cabeça). E neste turbulento momento político em que
vivemos, vê-se com clareza meridiana exemplos disso, inclusive de onde menos se
deveria esperar.
Portanto, não se trata de defender Dilma ou Lula, mas de
defender nossa frágil e incipiente democracia contra seus detratores (sobretudo
a grande mídia - o quarto poder) que deseja impor seus interesses espúrios
manipulando a opinião política do povo como se fosse massa de manobra. É
preciso ainda questionar a submissão (a falta de autonomia) do Poder Judiciário
que julga segundo critérios políticos e não segundo critérios jurídicos ou
legais.
*Claudinei Chitolina é professor de Filosofia na UNESPAR - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
PARANÁ - PARANAVAÍ E DA PUCPR- MARINGÁ.
Texto inteligente e de fácil compreensão, expõe os fatos de forma didática, muito bom.
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