A íntegra da delação premiada de Delcídio do Amaral mostra o
que, efetivamente, o ministro da Educação e nome de confiança de Dilma
Rousseff, Aloizio Mercadante, disse ao assessor do parlamentar, José Eduardo
Marzagão, e as conclusões e interpretações que ele mesmo teve para os investigadores
da Lava Jato.
No GGN
Espontaneamente, Delcídio entregou a gravação das conversas
entre seu assessor e o ministro ao Ministério Público Federal, sem que os
investigadores solicitassem ou questionassem esclarecimentos sobre o fato.
A delação de Delcídio, neste ponto, inicia-se com o
parlamentar explicando porque tem "atritos políticos" com Mercadante.
Citou, então, o caso do senador José Sarney, em que a bancada do PT orientou o
voto de seus parlamentares pelo arquivamento de pauta e que Mercadante mudou a
postura e votou pelo prosseguimento das investigações.
Delcídio também recuperou em sua memória de conflitos com o
ministro que, durante a CPI dos Correios, da qual era presidente, Aloisio
Mercadante havia comparecido uma única vez, apenas "para tentar livrar sua
propria responsabilidade pelo fato de Duda Mendonça ter feito sua campanha e
estar, ao mesmo tempo, envolvido no contexto das investigações do
Mensalão", na sua opinião.
Em seguida, afirmou que esse conflito foi o que fez com que
sua esposa negasse a tentativa do ministro de entrar em contato com ele. Na
versão de Delcídio, com a suposta negativa, Mercadante teria procurado o seu
assessor, Eduardo Marzagão, nos dias 1, 9 e 28 de dezembro do último ano,
enquanto Delcídio estaria preso.
O conteúdo da conversa entre os dois - que podem ser
verificadas na gravação vazada para a imprensa - e a interpretação do senador
foram:
(01) Mercadante pediu "calma" a Delcídio, por meio
de seu assessor, e pediu que avaliasse "muito bem a conduta a tomar, diante
da complexidade do momento crítico". Como forma de consolo, o ministro
disse ao senador que "em pouco tempo o problema seria esquecido e que tudo
ficaria bem".
Em delação aos investigadores, Delcídio interpretou que a
mensagem "a bem da verdade era no sentido do depoente não procurar o
Ministério Público Federal para, assim, ser viabilizado o aprofundamento das
investigações da Lava Jato".
(02) O assessor de Delcídio comentou, em uma das conversas,
que Delcídio e sua família estavam gastando dinheiro com advogados e, por isso,
colocando imóveis à venda. Mercadante respondeu que sobre o pagamento de
advogados, o senador poderia contar com o PT, por meio de uma empresa, para
pagar os honorários.
Delcídio concluiu que "este é o modus operandi do
PT". Que "a propósito da contratação de escritórios de advocacia ao
tempo do Mensalão, acredita que o PT bancou a defesa dos correligionários
envolvidos".
(03) Mercadante, em determinada situação, mostrou a
confiança que tem da presidente Dilma Rousseff, afirmando que "se ela
tiver que descer a rampa do Planalto sozinha, eu descerei ao lado dela".
O gesto foi entendido por Delcídio que: "Aloisio
Mercadante agiu como emissário da Presidente da República e, portanto, do
governo".
(04) Em outro episódio, Mercadante afirmou que se Delcídio
resolvesse colaborar com o Ministério Público Federal e com o Poder Judiciário,
receberia uma "responsabilidade monumental" por ter sido "um
agente de desestabilização".
O senador disse ter achado "estranha esta
afirmação" e concluiu que foi uma "ameaça velada à vista de possível
recrudescimento da crise política".
(05) Mercadante salientou a Delcídio do Amaral que o deixava
"à vontade para decidir o que achasse melhor".
Mas, "na percepção do depoente [Delcídio]", isso
"reforçava a intenção" de Mercadante de fazer o senador
"permanecer em silêncio".
***
Ao final, o senador disse que concluiu achar melhor firmar o
acordo de delação premiada porque "conhece o governo por dentro" e,
por isso, "não sentiu qualquer firmeza nas promessas de solidariedade e de
ajuda política que, eventualmente, receberia". O parlamentar cumpriu a
promessa de vingança que anunciou, em dezembro do ano passado, ao não receber
ajuda do PT.
Chegou a dizer que "se fosse outro o Governo", ele
"poderia pensar de modo diferente" e não aceitar a delação.
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