Em seu blog no UOL, o jornalista Mário Magalhães relembra as
acusações contra Juscelino Kubitschek a respeito de um apartamento na avenida
Vieira Souto, em Ipanema, no Rio de Janeiro. Magalhães levanta recortes de
jornais da época, relembrando que JK deve a vida "devassada" após o
golpe militar e a cassação de seu mandato como senador. "As autoridades o
acusaram de um sem-número de falcatruas, como se fosse um ladrão voraz",
também mostrando que a imprensa deu força para as acusações do regime militar.
Deu no GGN
O apartamento estava em nome de uma empresa controlada pelo
banqueiro Sebastião Pais de Almeida, amigo de Juscelino Kubitschek. Apesar das
acusações, não houve julgamento na Justiça comum, e o procurador considerou que
não existiam provas de que JK fosse o dono do apartamento. Leia mais abaixo:
Enviado por Luciano Prado
Do blog de Mario Magalhães, no UOL
Tratado como ladrão, JK foi acusado de ser dono de imóvel em
nome de amigo
Mário Magalhães
Depois de deixar a Presidência, Juscelino Kubitschek
(1902-1976) foi morar num apartamento novinho em folha na avenida Vieira Souto,
Ipanema, o metro quadrado mais caro do país.
A empreiteira que ergueu o prédio havia tocado na região Sul
uma obra concedida pela administração JK (1956-1961).
O projeto arquitetônico do prédio foi desenhado por Oscar
Niemeyer, que nada cobrou pelo serviço.
Mais de uma vez o ex-presidente visitou as obras do apê que
viria a ocupar.
Idem sua mulher, dona Sarah, que pediu numerosas alterações
no projeto original.
Um mestre de obras foi afastado, devido a reclamações da
antiga primeira-dama.
O imóvel era espaçoso. Jornais publicariam que tinha 1.400
metros quadrados, o que parece exagero. Mas nele JK chegou a discursar para
centenas de pessoas.
Juscelino pagava um aluguel irrisório ou morava de graça _as
versões variam.
O apartamento em frente ao mar estava em nome de uma empresa
controlada pelo banqueiro Sebastião Pais de Almeida.
Multimilionário, o empresário era amigo de JK, em cujo
governo havia sido ministro da Fazenda.
Em junho de 1964, a ditadura recém-instalada cassou o
mandato de senador de Juscelino e suspendeu seus direitos políticos por dez
anos.
O ex-presidente teve a vida devassada, investigado em
inquéritos policiais militares.
As autoridades o acusaram de um sem-número de falcatruas,
como se fosse um ladrão voraz.
A acusação de maior apelo entre os opositores do
ex-governante era a de que, na verdade, o apartamento da Vieira Souto era de
Juscelino.
Sem renda para justificar tamanha ostentação, o
ex-presidente “corrupto'' teria preferido ocultar o patrimônio.
Portanto, Sebastião Pais de Almeida seria um laranja.
Atípico, tal a sua fortuna, mas laranja.
Certa imprensa fez um Carnaval, chancelando as acusações da
ditadura, como se vê em títulos de jornal reproduzidos neste post.
Na Justiça comum, nem julgamento houve.
O procurador considerou não haver provas de que Juscelino
fosse o dono do apartamento.
E enumerou provas de que o imóvel pertencia mesmo a
Sebastião Pais de Almeida, que o emprestara ao amigo JK.
O juiz mandou arquivar o processo.
Dei com as notícias _onze, abaixo e acima_ na apuração do
meu próximo livro, sobre Carlos Lacerda (1914-1977), cujo triplex na praia do
Flamengo foi alvo dos seus adversários.
Os recortes integram o acervo do velho SNI, Serviço Nacional
de Informações, criado justamente em junho de 1964. Estão no Arquivo Nacional.
É certo que outras publicações jornalísticas trataram do
apartamento onde a família Kubitschek vivia.
Mas eu reproduzo o que tenho à mão, a papelada sobre
Juscelino selecionada pelos arapongas.
O nome do jornal que veiculou cada texto é identificado
pelos burocratas do SNI na folha de papel onde os recortes foram colados.
Há um caso em que não se informa qual é o jornal.
E outro em que o título foi manuscrito.
Hoje, Juscelino Kubitschek é considerado grande brasileiro.
Dona Sarah dá nome à rede de hospitais de reabilitação.
Lula
A história do apartamento que não era de JK significa que o
triplex do Guarujá não pertence ao ex-presidente Lula?
Não necessariamente.
Desconheço minúcias do inquérito e do processo sobre o
petista.
Isso é com a polícia, o Ministério Público e a Justiça.
Sei é que, sem prova, pode se supor muita coisa.
Mas condenar por suposição não é fazer justiça.
Promiscuidade
Tanto no caso de JK quanto no de Lula há indícios de
promiscuidade entre agentes públicos e privados.
Tal promiscuidade é condenável e faz mal ao Brasil.
Se é sempre crime ou não, são outros quinhentos.
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