Sem compromisso com a opinião pública, a grande mídia
brasileira está se transformando em agências e departamentos de assessoria de
imprensa, divulgando o que é de interesse próprio, longe da isenção necessária
para ser definida como produtora de conteúdo jornalístico independente.
A praga se espalha na voz de colunistas, reportagens
principais dos veículos e notas em off em seções que mais parecem defender
organizações e ideologias, longe do interesse coletivo.
Jornalistas e assessores de imprensa ficavam cada um de um
lado do balcão. Hoje, parecem juntos. Utilizando técnicas, metodologias e
linguagens jornalísticas, a tarefa de ambos agora são as mesmas: divulgar o
pensamento da empresa ou instituição para a qual trabalha, com compromisso
apenas em defender os interesses dela – na maioria das vezes por motivação
econômica; como circula nos bastidores das assessorias de imprensa, o serviço
tem caráter final de alavancar “vendas” de produtos, serviços e projetos do
assessorado.
Não que isso não acontecesse antes. Mas havia divisor de
águas capazes de fazer acadêmicos não compartilharem com a ideia de que
jornalistas e assessores de imprensa exercessem a mesma atividade. Mas do jeito
que está, é melhor rediscutir essa relação profissional e até o seu futuro.
Plataformas da grande mídia viraram, em sua maioria,
instrumentos de propagação de ideias e reflexões sem pluralidade, mas parecendo
seção de releases do ponto de vista da instituição, levando-se a discutir seu
valor jornalístico.
Essa controvérsia deveria ser inimaginável. Foi no período
da Ditadura que a assessoria de imprensa se desenvolveu no País. Era um esforço
de guerra para o fortalecimento de o governo militar no Brasil – e não precisa
lembrar que vários veículos à época aceitaram placidamente a propaganda do
regime quando ela chegava às redações, uns por pouco tempo e outros por muito
tempo, divulgando-a para a sociedade.
Parece estar acontecendo uma repetição desse quadro. Só que
as fontes já não são mais as Forças Armadas, mas grupos de direita. Os
press-releases, dossiês, notas e informações em off de referidas fontes devem
ser enviadas à grande imprensa, com cara de informe publicitário ou boletim de
instrumento de culto ao assessorado – por conveniência, eles são prontamente
aproveitados.
Mas há casos em que o próprio veículo elabora a pauta em
prol de suas motivações individuais – e deve até assessorar suas fontes a
melhor forma de divulgar a suposta informação ali empreendida.
É nesse cenário de desconfiança que, cada vez mais, fontes
isentas vem negando participar desse jogo, onde elas funcionam apenas a serviço
do verniz necessário para dar certo ar de credibilidade e independência. Mas se
a grande mídia se transformou em meras agências de assessoria de imprensa e
relações públicas com estratégias voltadas pouco ao bem público, por que não
concordar com uma fonte isenta que não queira participar desse modelo
comunicacional unidirecional?
Assessores de imprensa e jornalistas da chamada grande
imprensa podem tirar o balcão que os dividem. Os dois agora são a mesma coisa.
Os jornalistas da mídia tradicional fazem hoje assessoria de imprensa para o
golpe.
Via – Jornal GGN
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