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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Fabiana Ribeiro Palma - COMO VENCI UM CÂNCER DE MAMA

"Quero que meu exemplo de luta sirva de alerta para todas as 

mulheres, que não sejam negligentes com sua saúde. Não deixem 

de fazer os exames de rotina. Eles valem a nossa vida"....


Minha vida sempre foi uma superação, pois com um ano de idade fui abandonada pela minha mãe biológica, segundo relatos que ouvi desde quando era criança, ela era mulher da vida, trabalhava em casa de prostituição. Em busca de mais qualidade de vida e ganhos de dinheiro, ela aceitou uma proposta para sair da cidade, ir trabalhar num garimpo de ouro, naquela época muitas mulheres acabavam tomando essa atitude como uma esperança para tentar mudar de vida. Como não tinha condições de me levar junto, em um ato de desespero, me entregou para uma colega de trabalho, que também exercia a mesma profissão, ela decidiu pela amiga, pois achou que eu ficaria bem, já que a mesma tinha uma casa e outros filhos. Mas infelizmente não foi o que aconteceu.

Arrependida por ter me pego para criar, gritava frequentemente que seria melhor que tivessem me jogado em uma lixeira e falava que eu tinha que trabalhar para cobrir as despesas que ela tinha comigo, era um ambiente desesperador, um verdadeiro “inferno” conviver naquelas circunstâncias.

Aos 12 anos comecei a trabalhar como doméstica, para poder comprar minhas coisas, e ajudar em casa, pois essa mulher que agora tinha se tornado minha mãe, dizia que não iria me sustentar e eu já podia trabalhar e ter o meu próprio dinheiro.

Fui criada num ambiente promiscuo, sem amor e sendo rejeitada por essa mulher que me "acolheu". O grande trauma da minha vida, ocorreu quando eu completei 15 anos, para meu desespero e ao mesmo tempo alegria, essa mulher me mandou embora da sua casa, sim esse foi meu presente, o lutar pela minha sobrevivência, já que era uma criança sem perspectiva de vida, sem uma casa, um lar ou qualquer outra família.

Tive que procurar abrigo na casa de pessoas desconhecidas que me acolhiam, pois ficavam com dó, mas ao mesmo tempo eu me sentia rejeitada, afinal não fazia parte da família. E assim fui vivendo, "pulando de galho em galho".

Mas Deus foi muito bom comigo, conheci um rapaz, meu atual marido e viemos embora para Curitiba e com ele construí uma vida nova, hoje tenho um lar e minha própria família...

Meu sonho é encontrar meus pais, principalmente minha mãe biológica, mas até hoje não consegui, espero que até o final da minha vida eu consiga, pois, me sinto uma pessoa sem identidade por não saber ao certo minha história, as informações que constam em meu registro de nascimento não são verdadeiras, foram inventadas, porque minha mãe não deixou nenhuma informação referente a minha origem.

Tanto sofrimento deixou enormes cicatrizes emocionais, mas que hoje eu tento esquecer através do carinho do meu filho e do meu marido e também das pessoas que estão ao meu redor. Sempre fui carente de afeto e por isso agradeço muito a Deus por todos os amigos que foram verdadeiros anjos em minha vida e me ajudaram a levar uma vida com menos sofrimento.

Hoje, sou uma mulher feliz. Por tudo que passei, não espero muita coisa dessa vida, somente continuar vivendo”.

Meu nome é Fabiana Cristina Ribeiro da Silva, tenho 35 anos, sou natural de Nova Londrina/Pr e resido em Curitiba /Pr há 16 anos, casada e tenho um filho de 7 anos.
Em 17 de setembro de 2015, recebi o diagnóstico de câncer de mama (CARCINOMA DUCTAL INFILTRANTE MULTIFOCAL POUCO DIFERENCIADO DE GRAU 3), com 34 anos de vida, passei a viver um grande pesadelo.

Tudo começou no início de 2014, com o aparecimento de um pequeno nódulo de 2 cm na mama direita, senti ao fazer o exame de toque no banho, mas como eu achava que era benigno pois em 2002 eu havia retirado na mesma mama um nódulo benigno que também não doía, acabei sendo negligente com minha saúde e resolvi não retirar, visto que o mesmo não me incomodava. Até então tudo caminhava normalmente na minha vida, eu tinha um emprego, uma casa, uma família, tudo perfeito.

Em abril de 2015, após fazer uma economia de dinheiro, decidi fazer uma mamoplastia (redução das mamas), pois esse era meu sonho de consumo desde muito jovem, pois considerava minhas mamas fora dos padrões estéticos em relação ao meu corpo. Antes de realizar esse procedimento, fui obrigada a retirar o nódulo, pois o médico não poderia realizar a cirurgia, sem antes resolver esse problema. Após a retirada do nódulo, o mesmo foi enviado para biópsia, procedimento normal. Com a realização desse procedimento, achei que tudo estaria resolvido e os caminhos abertos para realização do meu sonho.

Um mês após a retirada do nódulo, realizei a tão sonhada mamoplastia, fiz todos os exames pré operatórios (mamografia, ecomamaria, eletrocardiograma, etc), médico verificou os exames e fui liberada para cirurgia, porém não dei atenção ao exame mais importante para minha vida, o resultado da biópsia do nódulo que havia sido retirado a um mês, fui atrás do exame algumas vezes, porém o mesmo nunca estava pronto, como achava que não era nada, acabei nem me preocupando.

Mesmo sabendo que eu tinha retirado o nódulo e que não tinha o resultado da biópsia, o cirurgião plástico decidiu realizar o procedimento. Após a cirurgia, o médico responsável me informou que a mama esquerda havia sido feito a redução conforme minha vontade, porém a mama direita havia sido realizada uma reconstrução ao invés de redução, visto que a mesma possuía tecidos duvidosos com coloração não compatível e por isso eles acharam mais conveniente mandar esses tecidos para biópsia, como estava feliz com a realização do meu sonho, não me dei conta do que ele tinha me alertado.

Após o procedimento de redução de mama, comecei a ligar no hospital afim de retirar o laudo da biópsia, que havia sido solicitado em abril, ligava a cada 15 dias e nunca tinha uma resposta. Visto que o mesmo nunca estava pronto, resolvi não ligar mais, pensando que se tivesse sido constatado algo fora do normal, com certeza um responsável no hospital iria entrar em contato. Passados cinco meses, eu resolvi ligar novamente e perguntar do laudo, já que ninguém havia me ligado (em setembro de 2015), fui informada que o resultado havia demorado visto que o hospital estava com problemas na assinatura de convênio com patologista responsável. Enfim o resultado da biópsia estava pronto, então pedi para meu compadre que trabalhava no hospital pegar para mim.

Ele me entregou o laudo, li e o guardei na bolsa, pois como não tinha a palavra maligno, não me preocupei, não entendi o que era Carcinoma “kkk”, meu compadre meu anjo amigo, questionou se eu havia lido direito e eu disse que sim, ele sem medir as palavras me falou: “Fabi você está com Câncer”, eu disse “não, imagina” ele afirmou novamente, “sim”, procure imediatamente um médico especializado.

Fui trabalhar normalmente no outro dia e mostrei o laudo para uma amiga de trabalho que teve câncer de mama, ela não quis me assustar e falou que não sabia se era ou não e me orientou que eu marcasse um mastologista. Peguei o telefone e imediatamente marquei, consegui uma consulta somente para dali um mês. Minha outra colega de trabalho, pegou o meu laudo e entregou para meu chefe que é médico, ele assustado, imediatamente ligou para um oncologista e marcou a consulta para outro dia, me chamou na sala dele e avisou que tinha marcado a consulta para o outro dia, eu me espantei e fiquei pensando o porque ele havia marcado a consulta tão rápido, fiquei muito intrigada.

Na mesma hora entrei em contato com um professor do curso de medicina, que é oncologista e perguntei se ele poderia verificar o meu laudo, já que eu tinha dúvidas, ele imediatamente pediu que eu enviasse por e-mail e disse que iria falar comigo naquele dia mesmo. Após o almoço o oncologista foi falar comigo e deu o diagnóstico com todas as letras, você está com CÂNCER.

Me recordo com emoção a cena com a qual me deparei, quando o médico me disse que eu estava com câncer. “Fabi, você vai precisar ser forte, pois vai passar por muitas mudanças, vai perder seus longos cabelos, vai precisar fazer mastectomia total, vai fazer quimioterapias e radioterapia e você vai passar por muitas coisas”. E eu desesperada apenas chorava, não acreditando que estava acontecendo comigo, meu mundo desabou. O susto inicial foi indescritível, os medos incontáveis. Quando olhava para frente, parecia que seria uma vida toda de luta. Hoje, quando olho para trás, vejo que foram quase 10 meses de um aprendizado divino.

Naquele instante a única coisa que passava pela minha cabeça é que eu poderia morrer e não ter a chance de criar meu filho, que na época tinha apenas 6 anos. O médico me orientou que precisava correr com os exames, pois não sabia o estágio da doença. Não consegui mais trabalhar e fui para casa e só chorava, no dia seguinte com meu marido, fui no oncologista Dr.Cleverton, um médico maravilhoso que foi indicado pelo meu chefe que confirmou o diagnóstico e calmamente me explicou os procedimentos e me disse serenamente, "Você não vai morrer, por estar com câncer, vamos tratar e você vai ficar curada". Era só o que eu queria acreditar. Minha primeira pergunta para a oncologista foi se eu iria ficar careca. Eu já sabia a resposta , mas mesmo assim, fiquei triste ao ouvir que ficaria.

O Dr. pediu para eu realizar todos os exames para saber em que estágio estava o câncer, tive que engolir o choro e correr atrás do  tempo perdido. Ao sair do consultório eu imediatamente fui fazer o primeiro exame e confesso que foi a pior semana da minha vida, porque tive que correr contra o tempo para fazer os exames e sempre torcendo para não ter metástase, quando o câncer se espalha para os demais órgãos. A cada resultado que eu pegava, era uma vitoria e eu só agradecia a Deus.
Enfim os resultados foram saindo e graças ao bom Deus eu não tinha metástase. Um grande alívio. O câncer era só na Mama Direita e o melhor de tudo foi o resultado da himunoistoquimica que deu positivo para Estrogênio e Progesterona, ou seja era um câncer menos agressivo.

No dia 16 de outubro de 2015, comecei meu tratamento no Hospital Evangélico, fui tratada pelo Dr.Jean Alexandre Furtado, iniciei com a mastectomia total da mama direita (retirada da mama), pois meu câncer era infiltrante e ao mesmo tempo a retirada dos dois ovários, pois meu câncer era hormonal, e o médico me orientou que seria a melhor coisa a se fazer. Lembro que naquele dia tive dores horríveis na barriga, uma cólica que fazia com que eu me contorcesse inteira, a dor era tanta que fui medicada com morfina.

Após a realização da Mastectomia, foi dado início as 16 sessões de Quimioterapias, sendo 4 vermelhas e 12 brancas e 28 sessões de Radioterapias. Na minha primeira sessão de quimioterapia vermelha  eu me senti  normal e achei que tudo o que falavam era mentira, mas no segundo pro terceiro dia vieram as náuseas, o mal estar, as tonturas e outras inconveniências que eu já nem lembro mais, o bom de tudo isso que logo o corpo se recupera e a gente volta ao normal.

Após 12 dias o meu cabelo começou a cair, não aguentando mais aquela sensação horrível, pedi para Josi uma amiga querida da Associação Amigas da Mama vir em minha casa e raspar todo meu cabelo, pois não aguentava aquela agonia. Após o queda dos cabelos, começou a cair sobrancelhas, cílios e todos os demais pêlos do corpo. A gente fica “com cara de minhoca” como diz uma amiga. Um dia eu me achava com cara de minhoca, no outro com cara de coruja, porque os meus olhos ficaram fundos e as olheiras ficaram muito feias.

O tempo vai passando e a gente vai sentindo os efeitos da Quimioterapia. Pensava todo o dia, quando me olhava no espelho, na frase do primeiro médico: “eu não vou morrer com o câncer, vou me tratar e me curar”, isso me dava muita força para continuar a luta.

Durante todo o tratamento, contei com apoio de pessoas que entraram em minha vida e que Deus colocou para cuidar de mim. Recebia orações, muito carinho, energias de muitas pessoas, que para mim foram anjos sem asas, meu marido, filho, sogra, cunhada, compadre, amigos e pessoas desconhecidas que eu nem imaginava que gostavam de mim, as quais serei eternamente grata. As pessoas diziam: “você é guerreira, vai vencer”. Em todos os momentos me apeguei a Deus, que foi inviolavelmente minha fortaleza, meu alicerce.

Eu sou crente a Deus e sei que tudo isso que passei tem um porque. Eu sabia que era mais uma fase ruim na minha vida, mas, que tudo terminaria bem.

Nesses quase 10 meses de tratamento, eu tive que me redescobrir como mulher, pois sempre fui extremamente vaidosa com meu corpo e meu cabelo e ao me ver careca, posso afirmar que foi a pior sensação da minha vida, pois, sempre fui extremante vaidosa com meu cabelo e sem a mama foi uma tristeza muito forte que bateu em meu coração, eu não me reconhecia mais, aquela cicatriz enorme no lugar da mama, eu achava que nunca conseguiria vencer essa tristeza.

Enquanto lutava para achar uma maneira de resgatar minha auto-estima, apareceu mais um anjo em minha vida, que chama-se Juliana Mundim, uma fotógrafa que assim como eu estava vencendo um câncer de mama e que me convidou para fazer um ensaio fotográfico para elevar minha auto estima, eu exibida que sou, aceitei imediatamente.

Através das imagens da fotografia, eu me aceitei e pude reencontrar minha própria identidade e perceber a minha força, minha beleza física e interior mesmo sem uma mama . Tudo bem, que meu cabelo já estava grandinho, mas a minha enorme cicatriz no lugar da mama permanecia. Graças a esse Anjo que Deus me enviou, daí por diante decidi que eu iria ser protagonista da minha vida, eu não queria que meu filho me visse chorando e triste pelos cantos.
Brotou em mim uma coragem, uma determinação que eu nem sabia que tinha. Naquele momento eu me transformei em uma verdadeira fênix e ressurgi das cinzas, e nunca mais chore. Procurei estar sempre sorrindo, mostrando para as pessoas a minha força através do sorriso e essa foi minha arma, minha marca . Uma forma de retribuir o bem que as pessoas estavam me fazendo.

Hoje estou aqui, mais forte e feliz do que quando tudo isso começou, sou uma pessoa melhor. A vida ganhou novos olhares e hoje sou muito grata por tudo o que já passei, pois o Câncer de Mama foi um presente, tudo bem que de grego, posso afirmar que o tratamento foi muito doloroso e sofrido, cada picada, as veias bailarinas que teimavam em dançar, a cicatriz que ficou no corpo e na alma só me fortaleceu e me fez dar mais valor a vida, doí ainda mais quando olho no espelho e vejo minha cicatriz. Quero muito reconstruir minha mama, mas sei que tudo há seu tempo e preciso esperar o meu.

Através do câncer de mama, eu tive muitas oportunidades, fiz vários projetos de fotografias, como o Afagos, Retratos que transformam , Studio Único e outros trabalhos contando um pouco da minha luta e superação. Conheci muitas amigas de destino que assim como eu estavam passando por essa fase difícil. Pude viver uma nova vida e foi nessa fase de lutas e de vitórias que realmente me descobri, foi também através desse tratamento que renovei minha fé. Hoje estou curada, ficando agora apenas os exames trimestrais para controle e tomar o remédio anti-câncer por 10 anos, o famoso “Tamaxofeno” e enfim posso voltar a minha vida que considerava normal, pois igual ao que era antes não será mais possível, pois sou outra pessoa.

Me sinto honrada em poder compartilhar a minha história de luta e superação, e poder contribuir de alguma maneira com pessoas que estão passando por isso ou tem alguém na família passando por este momento que parece não ter salvação. Quero dizer para nunca perder a fé e a esperança. Tudo passa, a gente aguenta e quando se tem fé e Deus no coração o fardo fica mais leve. Agradeço a Deus e a Nossa Senhora pela benção da cura e a chance de continuar vivendo. A fé faz milagres. Então tenham fé, SEMPRE e não desistam nunca.

Quero que meu exemplo de luta sirva de alerta para todas as mulheres, que não sejam negligentes com sua saúde. Não deixem de fazer os exames de rotina. Eles valem a nossa vida, e não esqueçam de fazer o auto-exame também. Acreditem e façam sua parte, Deus é perfeito em suas ações. Graças a Deus estou viva e continuo sorrindo  para contar a minha história, meu testemunho de superação.O câncer para mim foi um renascer. Que ele também fortaleça todos que passarem por este desafio.





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