"Quero que meu exemplo de luta sirva de alerta
para todas as
mulheres, que não sejam negligentes com sua saúde. Não deixem
de fazer os exames de rotina. Eles valem a nossa vida"....
Minha vida sempre foi uma superação, pois com um ano de
idade fui abandonada pela minha mãe biológica, segundo relatos que ouvi desde
quando era criança, ela era mulher da vida, trabalhava em casa de prostituição.
Em busca de mais qualidade de vida e ganhos de dinheiro, ela aceitou uma
proposta para sair da cidade, ir trabalhar num garimpo de ouro, naquela época
muitas mulheres acabavam tomando essa atitude como uma esperança para tentar
mudar de vida. Como não tinha condições de me levar junto, em um ato de
desespero, me entregou para uma colega de trabalho, que também exercia a mesma
profissão, ela decidiu pela amiga, pois achou que eu ficaria bem, já que a
mesma tinha uma casa e outros filhos. Mas infelizmente não foi o que aconteceu.
Arrependida por ter me pego para criar, gritava
frequentemente que seria melhor que tivessem me jogado em uma lixeira e falava
que eu tinha que trabalhar para cobrir as despesas que ela tinha comigo, era um
ambiente desesperador, um verdadeiro “inferno” conviver naquelas
circunstâncias.
Aos 12 anos comecei a trabalhar como doméstica, para poder
comprar minhas coisas, e ajudar em casa, pois essa mulher que agora tinha se
tornado minha mãe, dizia que não iria me sustentar e eu já podia trabalhar e
ter o meu próprio dinheiro.
Fui criada num ambiente promiscuo, sem amor e sendo
rejeitada por essa mulher que me "acolheu". O grande trauma da minha
vida, ocorreu quando eu completei 15 anos, para meu desespero e ao mesmo tempo
alegria, essa mulher me mandou embora da sua casa, sim esse foi meu presente, o
lutar pela minha sobrevivência, já que era uma criança sem perspectiva de vida,
sem uma casa, um lar ou qualquer outra família.
Tive que procurar abrigo na casa de pessoas desconhecidas
que me acolhiam, pois ficavam com dó, mas ao mesmo tempo eu me sentia
rejeitada, afinal não fazia parte da família. E assim fui vivendo,
"pulando de galho em galho".
Mas Deus foi muito bom comigo, conheci um rapaz, meu atual
marido e viemos embora para Curitiba e com ele construí uma vida nova, hoje
tenho um lar e minha própria família...
Meu sonho é encontrar meus pais, principalmente minha mãe
biológica, mas até hoje não consegui, espero que até o final da minha vida eu
consiga, pois, me sinto uma pessoa sem identidade por não saber ao certo minha
história, as informações que constam em meu registro de nascimento não são
verdadeiras, foram inventadas, porque minha mãe não deixou nenhuma informação
referente a minha origem.
Tanto sofrimento deixou enormes cicatrizes emocionais, mas
que hoje eu tento esquecer através do carinho do meu filho e do meu marido e
também das pessoas que estão ao meu redor. Sempre fui carente de afeto e por
isso agradeço muito a Deus por todos os amigos que foram verdadeiros anjos em
minha vida e me ajudaram a levar uma vida com menos sofrimento.
Hoje, sou uma mulher feliz. Por tudo que passei, não espero
muita coisa dessa vida, somente continuar vivendo”.
Meu nome é Fabiana Cristina Ribeiro da Silva, tenho 35 anos,
sou natural de Nova Londrina/Pr e resido em Curitiba /Pr há 16 anos, casada e
tenho um filho de 7 anos.
Em 17 de setembro de 2015, recebi o diagnóstico de câncer de
mama (CARCINOMA DUCTAL INFILTRANTE MULTIFOCAL POUCO DIFERENCIADO DE GRAU 3),
com 34 anos de vida, passei a viver um grande pesadelo.
Tudo começou no início de 2014, com o aparecimento de um
pequeno nódulo de 2 cm na mama direita, senti ao fazer o exame de toque no
banho, mas como eu achava que era benigno pois em 2002 eu havia retirado na
mesma mama um nódulo benigno que também não doía, acabei sendo negligente com
minha saúde e resolvi não retirar, visto que o mesmo não me incomodava. Até
então tudo caminhava normalmente na minha vida, eu tinha um emprego, uma casa,
uma família, tudo perfeito.
Em abril de 2015, após fazer uma economia de dinheiro,
decidi fazer uma mamoplastia (redução das mamas), pois esse era meu sonho de
consumo desde muito jovem, pois considerava minhas mamas fora dos padrões
estéticos em relação ao meu corpo. Antes de realizar esse procedimento, fui
obrigada a retirar o nódulo, pois o médico não poderia realizar a cirurgia, sem
antes resolver esse problema. Após a retirada do nódulo, o mesmo foi enviado
para biópsia, procedimento normal. Com a realização desse procedimento, achei
que tudo estaria resolvido e os caminhos abertos para realização do meu sonho.
Um mês após a retirada do nódulo, realizei a tão sonhada
mamoplastia, fiz todos os exames pré operatórios (mamografia, ecomamaria,
eletrocardiograma, etc), médico verificou os exames e fui liberada para
cirurgia, porém não dei atenção ao exame mais importante para minha vida, o
resultado da biópsia do nódulo que havia sido retirado a um mês, fui atrás do
exame algumas vezes, porém o mesmo nunca estava pronto, como achava que não era
nada, acabei nem me preocupando.
Mesmo sabendo que eu tinha retirado o nódulo e que não tinha
o resultado da biópsia, o cirurgião plástico decidiu realizar o procedimento.
Após a cirurgia, o médico responsável me informou que a mama esquerda havia
sido feito a redução conforme minha vontade, porém a mama direita havia sido
realizada uma reconstrução ao invés de redução, visto que a mesma possuía
tecidos duvidosos com coloração não compatível e por isso eles acharam mais
conveniente mandar esses tecidos para biópsia, como estava feliz com a realização
do meu sonho, não me dei conta do que ele tinha me alertado.
Após o procedimento de redução de mama, comecei a ligar no
hospital afim de retirar o laudo da biópsia, que havia sido solicitado em
abril, ligava a cada 15 dias e nunca tinha uma resposta. Visto que o mesmo
nunca estava pronto, resolvi não ligar mais, pensando que se tivesse sido
constatado algo fora do normal, com certeza um responsável no hospital iria
entrar em contato. Passados cinco meses, eu resolvi ligar novamente e perguntar
do laudo, já que ninguém havia me ligado (em setembro de 2015), fui informada
que o resultado havia demorado visto que o hospital estava com problemas na
assinatura de convênio com patologista responsável. Enfim o resultado da
biópsia estava pronto, então pedi para meu compadre que trabalhava no hospital
pegar para mim.
Ele me entregou o laudo, li e o guardei na bolsa, pois como
não tinha a palavra maligno, não me preocupei, não entendi o que era Carcinoma
“kkk”, meu compadre meu anjo amigo, questionou se eu havia lido direito e eu
disse que sim, ele sem medir as palavras me falou: “Fabi você está com Câncer”,
eu disse “não, imagina” ele afirmou novamente, “sim”, procure imediatamente um
médico especializado.
Fui trabalhar normalmente no outro dia e mostrei o laudo
para uma amiga de trabalho que teve câncer de mama, ela não quis me assustar e
falou que não sabia se era ou não e me orientou que eu marcasse um
mastologista. Peguei o telefone e imediatamente marquei, consegui uma consulta
somente para dali um mês. Minha outra colega de trabalho, pegou o meu laudo e
entregou para meu chefe que é médico, ele assustado, imediatamente ligou para
um oncologista e marcou a consulta para outro dia, me chamou na sala dele e
avisou que tinha marcado a consulta para o outro dia, eu me espantei e fiquei
pensando o porque ele havia marcado a consulta tão rápido, fiquei muito
intrigada.
Na mesma hora entrei em contato com um professor do curso de
medicina, que é oncologista e perguntei se ele poderia verificar o meu laudo,
já que eu tinha dúvidas, ele imediatamente pediu que eu enviasse por e-mail e
disse que iria falar comigo naquele dia mesmo. Após o almoço o oncologista foi
falar comigo e deu o diagnóstico com todas as letras, você está com CÂNCER.
Me recordo com emoção a cena com a qual me deparei, quando o
médico me disse que eu estava com câncer. “Fabi, você vai precisar ser forte,
pois vai passar por muitas mudanças, vai perder seus longos cabelos, vai
precisar fazer mastectomia total, vai fazer quimioterapias e radioterapia e
você vai passar por muitas coisas”. E eu desesperada apenas chorava, não
acreditando que estava acontecendo comigo, meu mundo desabou. O susto inicial
foi indescritível, os medos incontáveis. Quando olhava para frente, parecia que
seria uma vida toda de luta. Hoje, quando olho para trás, vejo que foram quase
10 meses de um aprendizado divino.
Naquele instante a única coisa que passava pela minha cabeça
é que eu poderia morrer e não ter a chance de criar meu filho, que na época
tinha apenas 6 anos. O médico me orientou que precisava correr com os exames,
pois não sabia o estágio da doença. Não consegui mais trabalhar e fui para casa
e só chorava, no dia seguinte com meu marido, fui no oncologista Dr.Cleverton,
um médico maravilhoso que foi indicado pelo meu chefe que confirmou o
diagnóstico e calmamente me explicou os procedimentos e me disse serenamente,
"Você não vai morrer, por estar com câncer, vamos tratar e você vai ficar
curada". Era só o que eu queria acreditar. Minha primeira pergunta para a
oncologista foi se eu iria ficar careca. Eu já sabia a resposta , mas mesmo
assim, fiquei triste ao ouvir que ficaria.
O Dr. pediu para eu realizar todos os exames para saber em
que estágio estava o câncer, tive que engolir o choro e correr atrás do tempo perdido. Ao sair do consultório eu
imediatamente fui fazer o primeiro exame e confesso que foi a pior semana da
minha vida, porque tive que correr contra o tempo para fazer os exames e sempre
torcendo para não ter metástase, quando o câncer se espalha para os demais
órgãos. A cada resultado que eu pegava, era uma vitoria e eu só agradecia a
Deus.
Enfim os resultados foram saindo e graças ao bom Deus eu não
tinha metástase. Um grande alívio. O câncer era só na Mama Direita e o melhor
de tudo foi o resultado da himunoistoquimica que deu positivo para Estrogênio e
Progesterona, ou seja era um câncer menos agressivo.
No dia 16 de outubro de 2015, comecei meu tratamento no
Hospital Evangélico, fui tratada pelo Dr.Jean Alexandre Furtado, iniciei com a
mastectomia total da mama direita (retirada da mama), pois meu câncer era
infiltrante e ao mesmo tempo a retirada dos dois ovários, pois meu câncer era
hormonal, e o médico me orientou que seria a melhor coisa a se fazer. Lembro
que naquele dia tive dores horríveis na barriga, uma cólica que fazia com que
eu me contorcesse inteira, a dor era tanta que fui medicada com morfina.
Após a realização da Mastectomia, foi dado início as 16
sessões de Quimioterapias, sendo 4 vermelhas e 12 brancas e 28 sessões de
Radioterapias. Na minha primeira sessão de quimioterapia vermelha eu me senti
normal e achei que tudo o que falavam era mentira, mas no segundo pro
terceiro dia vieram as náuseas, o mal estar, as tonturas e outras
inconveniências que eu já nem lembro mais, o bom de tudo isso que logo o corpo
se recupera e a gente volta ao normal.
Após 12 dias o meu cabelo começou a cair, não aguentando
mais aquela sensação horrível, pedi para Josi uma amiga querida da Associação
Amigas da Mama vir em minha casa e raspar todo meu cabelo, pois não aguentava
aquela agonia. Após o queda dos cabelos, começou a cair sobrancelhas, cílios e
todos os demais pêlos do corpo. A gente fica “com cara de minhoca” como diz uma
amiga. Um dia eu me achava com cara de minhoca, no outro com cara de coruja, porque
os meus olhos ficaram fundos e as olheiras ficaram muito feias.
O tempo vai passando e a gente vai sentindo os efeitos da
Quimioterapia. Pensava todo o dia, quando me olhava no espelho, na frase do
primeiro médico: “eu não vou morrer com o câncer, vou me tratar e me curar”,
isso me dava muita força para continuar a luta.
Durante todo o tratamento, contei com apoio de pessoas que
entraram em minha vida e que Deus colocou para cuidar de mim. Recebia orações,
muito carinho, energias de muitas pessoas, que para mim foram anjos sem asas,
meu marido, filho, sogra, cunhada, compadre, amigos e pessoas desconhecidas que
eu nem imaginava que gostavam de mim, as quais serei eternamente grata. As
pessoas diziam: “você é guerreira, vai vencer”. Em todos os momentos me apeguei
a Deus, que foi inviolavelmente minha fortaleza, meu alicerce.
Eu sou crente a Deus e sei que tudo isso que passei tem um
porque. Eu sabia que era mais uma fase ruim na minha vida, mas, que tudo
terminaria bem.
Nesses quase 10 meses de tratamento, eu tive que me
redescobrir como mulher, pois sempre fui extremamente vaidosa com meu corpo e
meu cabelo e ao me ver careca, posso afirmar que foi a pior sensação da minha
vida, pois, sempre fui extremante vaidosa com meu cabelo e sem a mama foi uma
tristeza muito forte que bateu em meu coração, eu não me reconhecia mais,
aquela cicatriz enorme no lugar da mama, eu achava que nunca conseguiria vencer
essa tristeza.
Enquanto lutava para achar uma maneira de resgatar minha auto-estima,
apareceu mais um anjo em minha vida, que chama-se Juliana Mundim, uma fotógrafa
que assim como eu estava vencendo um câncer de mama e que me convidou para
fazer um ensaio fotográfico para elevar minha auto estima, eu exibida que sou,
aceitei imediatamente.
Através das imagens da fotografia, eu me aceitei e pude
reencontrar minha própria identidade e perceber a minha força, minha beleza
física e interior mesmo sem uma mama . Tudo bem, que meu cabelo já estava
grandinho, mas a minha enorme cicatriz no lugar da mama permanecia. Graças a
esse Anjo que Deus me enviou, daí por diante decidi que eu iria ser
protagonista da minha vida, eu não queria que meu filho me visse chorando e
triste pelos cantos.
Brotou em mim uma coragem, uma determinação que eu nem sabia
que tinha. Naquele momento eu me transformei em uma verdadeira fênix e ressurgi
das cinzas, e nunca mais chore. Procurei estar sempre sorrindo, mostrando para
as pessoas a minha força através do sorriso e essa foi minha arma, minha marca
. Uma forma de retribuir o bem que as pessoas estavam me fazendo.
Hoje estou aqui, mais forte e feliz do que quando tudo isso
começou, sou uma pessoa melhor. A vida ganhou novos olhares e hoje sou muito
grata por tudo o que já passei, pois o Câncer de Mama foi um presente, tudo bem
que de grego, posso afirmar que o tratamento foi muito doloroso e sofrido, cada
picada, as veias bailarinas que teimavam em dançar, a cicatriz que ficou no
corpo e na alma só me fortaleceu e me fez dar mais valor a vida, doí ainda mais
quando olho no espelho e vejo minha cicatriz. Quero muito reconstruir minha
mama, mas sei que tudo há seu tempo e preciso esperar o meu.
Através do câncer de mama, eu tive muitas oportunidades, fiz
vários projetos de fotografias, como o Afagos, Retratos que transformam ,
Studio Único e outros trabalhos contando um pouco da minha luta e superação.
Conheci muitas amigas de destino que assim como eu estavam passando por essa
fase difícil. Pude viver uma nova vida e foi nessa fase de lutas e de vitórias
que realmente me descobri, foi também através desse tratamento que renovei
minha fé. Hoje estou curada, ficando agora apenas os exames trimestrais para
controle e tomar o remédio anti-câncer por 10 anos, o famoso “Tamaxofeno” e
enfim posso voltar a minha vida que considerava normal, pois igual ao que era
antes não será mais possível, pois sou outra pessoa.
Me sinto honrada em poder compartilhar a minha história de
luta e superação, e poder contribuir de alguma maneira com pessoas que estão
passando por isso ou tem alguém na família passando por este momento que parece
não ter salvação. Quero dizer para nunca perder a fé e a esperança. Tudo passa,
a gente aguenta e quando se tem fé e Deus no coração o fardo fica mais leve.
Agradeço a Deus e a Nossa Senhora pela benção da cura e a chance de continuar
vivendo. A fé faz milagres. Então tenham fé, SEMPRE e não desistam nunca.
Quero que meu exemplo de luta sirva de alerta para todas as
mulheres, que não sejam negligentes com sua saúde. Não deixem de fazer os
exames de rotina. Eles valem a nossa vida, e não esqueçam de fazer o auto-exame
também. Acreditem e façam sua parte, Deus é perfeito em suas ações. Graças a
Deus estou viva e continuo sorrindo para
contar a minha história, meu testemunho de superação.O câncer para mim foi um
renascer. Que ele também fortaleça todos que passarem por este desafio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário