Desde outubro de 2014 quando foi anunciada a vitória de Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência da República, o senador tucano Aécio Neves, do conservador PSDB, deu início a um processo de golpismo institucional, no qual o principal mote era o impeachment de sua adversária eleitoral, que, democraticamente e pela vontade das urnas, foi reeleita presidenta do Brasil pelo povo brasileiro, com 54.501.118 votos.
Por Davis Sena Filho — Palavra Livre
Com o apoio do partido da imprensa familiar e meramente
empresarial, o tucano, que por duas vezes foi governador de Minas Gerais,
sofreu outra derrota eleitoral em seu próprio Estado, desta vez seu candidato,
o ex-deputado Pimenta da Veiga, perdeu para o petista, Fernando Pimentel, que
ora está a fazer um pente fino nas contas do Estado mineiro, depois de quase 20
anos de desgovernos do PSDB, partido que continua ainda a mandar e a desmandar
em estados importantes como São Paulo, Paraná e Goiás.
Contudo, e apesar de tudo, Aécio Neves “desistiu” do
impeachment, mas durante quase oito meses apostou em golpe, a não reconhecer a
vontade das urnas e a demonstrar cólera ou ódio de uma forma que não condiz com
as tradições da política mineira, a começar pelo seu avô Tancredo Neves, um
político moderado, voltado ao diálogo e que esteve na linha de frente de crises
políticas radicais.
Crises violentas, que dividiram o País, a exemplo da posse
de João Goulart, em 1961, bem como nos episódios da morte de Getúlio Vargas, em
1954, e do complexo acordo político para que ele vencesse o candidato oficial
da ditadura, Paulo Maluf, em um colégio eleitoral que referendou e legitimou a
candidatura indireta de Tancredo, já que a vontade popular de aprovar as
eleições diretas, em 1984, foi derrotada no Congresso.
Aécio Neves era o secretário particular de seu avô, que
faleceu antes de assumir a Presidência, e, ao que parece, não aprendeu nada,
pois, radical e imprudente, comportou-se politicamente com irresponsabilidade,
a apostar no quanto pior, melhor, bem como passou a vociferar contra Dilma
Rousseff de forma desrespeitosa, além de distorcer as realidades econômicas, a
começar por fazer críticas ao ajuste econômico, que, se fosse com ele, seria
muito mais radical, afinal seu ministro da Fazenda seria o economista e
banqueiro, Armínio Fraga, o homem do Banco Central do segundo governo de
Fernando Henrique Cardoso — o Neoliberal I.
Fraga, o homem de confiança do megainvestidor, George Soros,
elevou os juros para 45%, a maior taxa selic das últimas décadas, de forma que
engessou a economia, além de inviabilizar, de fato, a criação de empregos para
o povo brasileiro. Nunca se sofreu tanto. No governo cinzento do Neoliberal I,
sujeito a raios e trovoadas, cobras, aranhas e lagartos, nem emprego tinha para
o trabalhador. Quem não se lembra da tortura do desemprego são os mais jovens e
os coxinhas paneleiros de certas idades, que negam a história e constroem suas
“realidades” conforme seus interesses e conveniências.
A resumir: Armínio Fraga é tão somente um agente financeiro
da banca internacional. O mundo pode pegar fogo. O Brasil pode falir. O povo
pode morrer de fome e não ter emprego. Porém, o único interesse desse senhor,
que não tem compromisso algum com o Brasil e levou o Governo FHC a pedir
esmolas ao FMI como um subserviente e colonizado maltrapilho, é fazer com que
os investidores, ou seja, os agiotas, jogadores do mercado, especuladores e
rentistas ganhem a maior renda e lucro possíveis, ao preço, evidentemente, da
miséria e da fome do povo brasileiro. Voltemos a Aécio.
O político mineiro e carioca, enfim, “reconhece” que sua
estratégia de derrubar uma mandatária legítima seria, e como é, um tiro pela
culatra. A verdade é que o impeachment não era apoiado pelos tucanos de São
Paulo, adversários poderosos de Aécio, a exemplo do governador Geraldo Alckmin,
virtual candidato do PSDB à Presidência da República, e do senador, José Serra,
que sempre considerou que a eventualidade de um impedimento de Dilma Rousseff
não seria viável.
Quem deu corda para Aécio Neves se enforcar nessa aventura
desmedida e imprudente do impeachment foi o ex-presidente FHC, aquele que teve
em seu governo acinzentado o Gustavo Franco, o Armínio Fraga e o Pedro Malan
como homens de negócios privados para doar à gringada e aos entreguistas
predadores brasileiros o patrimônio público, que eles não construíram e jamais
teriam competência para construir, pelo simples fato de essa gente apátrida e
mentalmente colonizada não pensar o Brasil em hipótese alguma.
Ao dar os trâmites do golpe contra a Dilma por findos, o X
da questão para o tucano mineiro é não perder a indicação dentro do PSDB para
ser o candidato da legenda na corrida presidencial. Além disso, creio eu, Aécio
vai deixar de ser o alter ego jovem de FHC, que o ajudou a colocá-lo em uma
furada, inclusive a lembrar o político coxinha e golpista venezuelano, Henrique
Capriles, tanto no que diz respeito à aparência pessoal quanto na questão
relativa à agressividade, à manipulação dos fatos, das realidades e à ideologia
de direita, reacionária e de essência golpista.
A partir de agora, o “reizinho” da burguesia e da pequena
burguesia não vai poder mais se comportar como um garoto malcriado e
inconformado porque lhe tiraram seu brinquedo — a Presidência da República. E,
para isso, vai ter de se comportar, definitivamente, como adulto e não como o
intempestivo playboy de Ipanema e Leblon. A paulistada do PSDB não está para
brincadeiras, e não vai mais abrir a guarda para que um “estranho” no ninho
ocupe seu espaço político.
São Paulo é umbilicalmente ligado à contrarrevolução de
1932, e Minas Gerais, se Aécio Neves não sabe, mas deve saber, aliou-se a
Getúlio Vargas — o líder da Revolução de 1930, o único movimento armado que de
fato mudou a história do Brasil e as condições de vida do povo brasileiro. Não
é à toa que São Paulo é a única capital do Brasil que não tem uma única
ruazinha com o nome do maior presidente e estadista que este País já produziu,
a acompanhá-lo em grandeza o ex-presidente Lula, atualmente o maior líder
trabalhista e de esquerda da América Latina, que poderá, em 2018, ser o
candidato do PT ao Palácio do Planalto.
O jogo vai ser duro entre os tucanos e é por isto que a tese
do golpismo foi derrotada e a imprensa burguesa já compreendeu e mudou de
assunto. Desprovido de uma máquina estatal (perdeu o governo de Minas) e saindo
atrás na corrida presidencial em relação a Alckmin, o senador Aécio recorre a
frases como o PSDB não pode “saltar etapas”. Ele apostava no impeachment porque
perdeu o Governo de Minas, mas agora também notou que sua sobrevivência
política, em âmbito nacional, depende, sobretudo, de seu talento para convencer
os correligionários que ele é um candidato viável, pois teve 51 milhões de
votos.
Por causa desses fatores já citados, Aécio Neves quer adiar
o debate sobre sucessão no PSDB. O político das Alterosas está irritado ao
tempo que temeroso, pois seu adversário interno, Geraldo Alckmin, além dos
apoios dentro do partido, tem a máquina de São Paulo nas mãos, bem como a
cumplicidade quase que total da imprensa de negócios privados do Estado
bandeirante, que é seu braço político mais forte e agressivo, além de “fazedor”
da cabeça de uma grande parcela da classe média de perfil conservador, que está
insatisfeita com o PT no poder e principalmente com a ascensão social dos
pobres.
Aécio Neves vai ter de se reinventar. Ou voltar o que ele
sempre apareceu ser: um político de diálogo e moderado. A verdade é que o
mineiro está em uma encruzilhada, pois tem a consciência de que o PSDB paulista
antecipou a corrida da sucessão e a imprensa paulista e as Organizações(?)
Globo vão fechar com quem historicamente sempre fecharam: com o lacerdismo e a
Revolução de 1932. A verdade é dura, mas não tem escapatória: Aécio desce dos
tamancos e abandona seu viés golpista. É isso aí, cara pálida.
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