Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:
O que vai acontecer tão logo o Congresso Nacional
aprove a redução da maioridade penal para 16 anos?
Vamos nos enrolar em nosso cobertor de ignorância e
hipocrisia e sair quentinho pelas ruas achando que estamos seguros.
Problemas estruturais precisam de soluções
estruturais e não medidas pontuais. Não é simplesmente punindo o jovem em
desacordo com a lei, mas também criando condições para que ele não caia nas
graças da criminalidade.
Caso contrário, o problema se reorganiza após a
mudança da lei. Por exemplo, trazendo jovens de 15 anos para fazerem parte de
roubos e serem culpados pelos crimes. E, assim, sobrevive.
Quem ganha com isso? Políticos, comunicadores e
falsos profetas que oferecem gratuitamente o discurso do medo, viciando a
sociedade, que depois ficará ansiosa para comprar as soluções simplistas que
prometem paz e tranquilidade.
Soluções vendidas, aliás, por esses mesmos atores
sociais, ao custo de “votem em mim'', “assistam ao meu programa'', “venham à
minha igreja''.
Desse ponto de vista, qual a diferença entre alguns
dos membros dessa Santíssima Trindade do Medo e aqueles que usam jovens para
cometer crimes, uma vez que ambos os grupos lucram horrores com a exploração da
violência?
Há jovens que não têm nada a perder porque nada
tiveram. E os que podem perder muito mas, sinceramente, não se importam, porque
nós não nos importamos como eles quando deveríamos.
E há, é claro, os casos patológicos, cuja prevenção
é difícil ou mesmo impossível. Ou alguém acha que um maluco que abre fogo
contra uma igreja em nome da supremacia branca, como aconteceu nos Estados
Unidos, ou alguém massacra crianças de uma escola, como ocorreu em Realengo, no
Rio de Janeiro, pensa na punição que vai sofrer?
Tenho medo de indivíduos que assaltam, roubam e
matam, mas também tenho medo de uma sociedade maníaca que não fala, apenas
rosna diante do desconhecido. Pois essa sociedade cisma em não se diferenciar
de seus ancestrais que tacavam pedras no escuro porque temiam a noite.
Em momentos de emoção extrema, buscamos soluções
simples para diminuir a perplexidade, saídas para preencher a falta de sentido
e tapar o buraco deixado pela perda individual ou coletiva.
O problema é que elas não são úteis para resolver
problemas estruturais, nem mesmo para contribuir com os processos simbólicos de
luto e cura. Ajudam, contudo, naquela sede de vingança que carregamos desde
sempre.
Por que não elevar a pena para quem se associa a
jovens com menos de 18 anos para cometer crimes? Porque precisamos de sangue
desses jovens.
São nos momentos de emoção extrema que nossa
racionalidade é colocada à prova. Ou seja, que somos chamados a provar que
deixamos de ser uma horda tresloucada que segue um único instinto, o medo.
A sensação de insegurança pode levar à raiva, à
vingança e à mais violência.
Ou a uma reflexão que gere mudanças estruturais
possíveis, mas difíceis, como garantir uma vida melhor para a juventude no
Brasil, evitando assim o problema antes dele acontecer.
O que escolheremos? O que veremos no espelho no dia
seguinte?
Via - Blog do Miro
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