No fim da manhã de hoje Folha de S. Paulo publicou uma
notícia espetacular:
“Lula pede à Justiça para não ser preso por juiz da Operação
Lava Jato,” dizia o titulo.
O site do senador Ronaldo Caiado (DEM-MS) divulgou a
história. Eram 12:52 quando o roqueiro Roger celebrou no twitter: “Choro
antecipado”, disse o neo-golpista.
O problema é que se tratava de uma mentira. O pedido de
habeas corpus a favor de Lula não foi uma iniciativa do ex-presidente nem de
qualquer pessoa próxima.
Foi uma iniciativa de um cidadão de Campinas chamado Marcelo
Ramos Thomaz, que entrou com o pedido na Justiça do Rio Grande do Sul. Marcelo
apresenta-se como consultor e já fez isso outras vezes, embora com cidadãos
menos famosos. Já entrou com um pedido de habeas corpus para Nestor Cerveró,
condenado pela Lava Jato. Também apresentou o mesmo pedido para a secretaria
Simone de Vasconcelos, denunciada na AP 470.
A comemoração antes da hora dos adversários do PT apenas
reforça a necessidade de um cuidado elementar do jornalismo.
Se é necessário conferir toda notícia antes de sua
publicação, é indispensável fazer uma checagem reforçada quando ela envolve uma
personalidade de envergadura, quando cada informação - seja falsa, seja
verdadeira - pode ter consequências maiores.
Outro cuidado envolve personalidades que não se encontram na
lista dos mais queridos de uma publicação. A tentação de publicar uma notícia
que agrade a direção é sempre maior. Exige mais cuidado de apuração, portanto.
O saldo é criar uma anedota inesquecível, como a de Mark
Twain, que, ao ler num jornal a notícia da própria morte, reagiu de bom humor.
Disse que era “um pouco exagerada.”
A tentativa de apresentar Lula numa posição de fraqueza,
sintetizada pela frase “pede para não ser preso” - como se um direito legal
fosse um favor - é parte do esforço para atingir a imagem do ex-presidente. Não
por acaso o guitarrista da treva celebrou.
Mesmo que Lula tivesse pedido o habeas corpus, nada mais
estaria fazendo além de exercer um direito elementar dos regimes democráticos,
nos quais os cidadãos podem solicitar a um juiz que garanta sua liberdade
sempre que estão presos sem culpa formada. Durante a Operação Satiagraha,
Daniel Dantas foi preso duas vezes sem culpa. Nas duas vezes, recebeu habeas
corpus.
Descoberto o erro, a Folha corrigiu a notícia. Está certo.
Mas faltou esclarecer os incautos - como o guitarrista da treva - que a notícia
era falsa.
Faltou, é claro, fazer o óbvio: empenhar-se em evitar erro,
o que seria possível, por exemplo, com um telefonema ao Instituto Lula. Em
mensagem a ombudsman, o instituto afirmou: “Já sabemos que a suposta regra de
outro lado no Manual da Folha e da checagem de informações é relativa quando se
refere ao ex-presidente Lula. Mas o jornal, na figura desses dois repórteres,
passou agora de qualquer limite.”
Via Blog do Miro
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