Polícia mineira conclui investigação que indicia parentes diretos da mulher-forte do 'choque de gestão' de Aécio e Anastasia. Empresa já é denunciada por golpe em outro banco público, a CEF
Aécio, Anastasia e Vilhena: trio da gestão de choque em
Minas, no centro de novo inquérito policial
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Por Helena Sthephanowitz
Um inquérito da Divisão Especializada em Investigação de
Fraudes, da Polícia Civil, que investiga o roubo de R$ 22,7 milhões de agências
do Banco do Brasil em Minas Gerais por meio da empresa de transporte de valores
Embraforte, em 2013, aponta uso político da Polícia Civil mineira pelo então
governo do PSDB daquele estado para blindar criminosos "amigos".
O delegado Cláudio Utsch, que assumiu e concluiu o
inquérito, indiciou e pediu a prisão dos donos da Embraforte, Marcos André Paes
de Vilhena e seus dois filhos – Pedro Henrique Gonçalves de Vilhena e Marcos
Felipe Gonçalves de Vilhena. São respectivamente irmão e sobrinhos de Renata
Vilhena, chefe da Secretaria de Planejamento e Gestão, entre 2006 e 2014.
Trata-se da poderosa secretária estadual do "choque de gestão" dos
governos tucanos de Aécio Neves e Antônio Anastasia. Ela também foi secretária
adjunta de Logística e TI do Ministério do Planejamento do governo Fernando
Henrique Cardoso.
"O poder de Renata esteve sempre pronto a auxiliar o
irmão, e como é cediço*, tempos atrás a Deif (Divisão Especializada em
Investigação de Fraudes) fora usada para atender interesses do grupo político
do qual faz parte a ex-secretária", diz o inquérito. O problema, segundo o
delegado, seria interferências políticas para atrapalhar as investigações.
*Cediço: indiscutível, claro, notório, conhecido de todos
etc. (nota da edição)
Desde que o Banco do Brasil deu queixa do roubo a
investigação na Polícia Civil não andou. Só em abril deste ano o novo titular
da Deif (Cláudio Utsch) assumiu o caso e concluiu a investigação, em junho.
Entre as evidências de "blindagem" dos investigados,
Utsch relata o que considera manobras para atrasar a investigação,
"orquestradas por meio da influência de Renata Vilhena". Uma delas
teria sido tirar a investigação da Deif e levar para a Delegacia de Crimes
Cibernéticos, que não tem nada a ver com as características do caso. Outra foi
a retirada de peças importantes do inquérito pelo antigo delegado do caso.
A Embraforte prestou serviços de transporte de valores ao
Banco do Brasil de 2006 a 2014 nas cidades mineiras de Belo Horizonte, Varginha
e Passos. O Banco do Brasil descobriu uma fraude nos caixas eletrônicos
abastecidos pela empresa, que colocava menos dinheiro do que declarava.
Flagrados, os donos reconheceram o ocorrido mas colocam a culpa nos empregados.
Estes disseram ter cumprido ordens que vinham de cima, inclusive sob coação.
O inquérito afirma que a Embraforte roubou R$ 22,7 milhões
do Banco do Brasil por meio de depósitos com valores inferiores que os
incluídos no sistema da empresa. O esquema foi descoberto pelo próprio banco, uma
vez que as investigações pararam em algum gabinete da Polícia Civil.
Utsch pediu também o afastamento de seu antecessor nesta
investigação, o delegado César Matoso, acusando-o de ter agido como um
"advogado de defesa" dos Vilhena. "A autoridade policial,
travestindo-se de advogado de defesa de criminosos, e em parceria com os
advogados de defesa, produziu tais peças! Jamais tais oitivas poderão ser
consideradas como interrogatórios de criminosos que cometeram graves crimes de
colarinho branco", descreve, no inquérito.
As peças referidas são depoimentos dos investigados de forma
completamente anormal e suspeita. Em vez de o escrivão taquigrafar diretamente
no PCNet, sistema oficial da Polícia Civil próprio para isto, o fez num
programa de edição de texto comum, como se fosse um rascunho, abrindo a
possibilidade de seu conteúdo ser alterado antes de ser lavrado como o
depoimento oficial. Não bastasse, o próprio delegado César Matoso fez o serviço
de passar o "rascunho" para o PCNet oficial, uma atitude bastante
suspeita.
A Embraforte é alvo de outro inquérito na Polícia Federal
por ocorrência semelhante na Caixa Econômica Federal. Casas lotéricas deram
queixa de furto de dinheiro pela empresa. Parte do dinheiro recolhido nas
lotéricas pelos carros-forte não era depositada no banco de destino, apesar dos
controles apontarem exatidão nas operações.
Os negócios da Embraforte não ficam apenas nos bancos
públicos do Brasil. Outra denúncia contra os donos da empresa foi apresentada
pelo Ministério Público Federal (MPF) por trabalho escravo dentro da sede da
empresa. Em 2012, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego encontraram 115
empregados submetidos a jornadas extenuantes, em alguns casos com duração
superior a 24 horas, e a condições degradantes de trabalho.
De certa forma, aplicavam na iniciativa privada conceitos
que guardam alguma semelhança com aquilo que "choque de gestão
tucano" propõe ao serviço público.
Via RBA
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