Quando cheguei à Editora Globo como diretor editorial, em 2007, topei com uma coisa que jamais imaginara ver na carreira. A Época era a campeã de reclamações no Procon por causa de uma promoção em que prometia – ia escrever dava, mas não era bem o caso – um dvd para quem a assinasse. Emails de queixas transbordavam dos canais normais da editora – assinatura etc – e, sem resposta, acabavam chegando aos editores.
Foi uma das maiores trapalhadas que presenciei no jornalismo e no mundo corporativo como um todo.
A Globo simplesmente não conseguia entregar os dvds, por
conta de um planejamento esdrúxulo e uma logística ainda pior.
E em vez de leitores tínhamos, na revista, compradores de
dvs. Nas pesquisas com leitores, era constrangedor constatar que eles não liam
a revista: simplesmente a recebiam por causa do brinde.
Por trás da operação estava o bom, o competente Fred Kachar,
hoje diretor geral da editora e responsável por administrar a agonia dos
títulos da casa.
Bem, lembrei dos dvds não entregues por causa da edição da
semana passada.
A Época prometia, desta vez, não dvds, mas uma coisa muito maior:
o fim da República, por conta da prisão do dono da Odebrecht.
Ele supostamente contaria tudo e a República acabaria.
O pobre leitor da Época passou o final de semana contando
para os amigos que a República chegaria ao fim na segunda. E eis que não acontece
nada senão uma reação fortíssima da Odebrecht que bate, como jamais ocorrera
até aqui, nos fundamentos da Lava Jato.
Antes, a revista não entregou os dvds. Agora, sonegou o fim
da República.
Os leitores deveriam se dirigir, de novo, ao Procon.
A sonegação virou, merecidamente, piada na internet.
Mas o bonito foi ver a reação do editor da Época, o Kim
Kataguiri do jornalismo, Diego Escosteguy.
No Twitter, onde passou a fazer militância antipetista em
vez de jornalismo, ele se manifestou, depois do fiasco, como um Napoleão das
notícias.
Se a República de fato houvesse caído, ele não poderia estar
mais autocongratulatório do que está.
Postou uma foto de Lula na Odebrecht, como se isso fosse
revelador. Você encontra foto de toda a elite política na Odebrecht, ou na
companhia de seus donos.
Disse que pegou o apelido de Brahma para Lula. Ora, quem não
tem apelido?
Vou dar uma informação a ele. Na Editora Abril, seus
patrões, os irmãos Marinhos, eram chamados por Roberto Civita de Três Patetas.
Uma vez, na saída de uma reunião do Conselho Editorial da
Globo, José Roberto Marinho correu até mim, incomodado, para me perguntar se
era verdade que Roberto Civita os chamava de Três Patetas.
Escosteguy é um exemplo da miséria jornalística que tomou as
grandes empresas de mídia na louca cavalgada para derrubar o PT.
Você ascende não pelo talento, mas pela disposição em
promover um valetudo contra o PT. A competência exigida é apenas esta – o
antipetismo incondicional.
A Época conseguiu, por exemplo, publicar uma pesquisa no
começo do segundo turno de um certo Instituto Paraná de acordo com a qual Aécio
já estava eleito, tamanha a diferença que estabelecera.
Os assinantes minguam, as vendas em bancas minguam. Mas isso
não é problema para Escosteguy, assim como o Ibope pavoroso não é problema para
Ali Kamel.
Deles não se espera qualidade e nem a audiência que só a
qualidade traz.
São pagos para matar.
Se um dia perderem o emprego será por terem fracassado nisso
– matar o PT.
*jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo (DCM).
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