Por TALITA RUSTICHELLI
No - Folha da Região
Geraldo Vandré completou 80 anos neste sábado (12). Marcado
sobretudo por "Pra não dizer que não falei das flores" e
"Disparada", suas canções mais conhecidas, tem uma obra relativamente
curta (lançou apenas cinco discos), mas significativa. Além de ter sido autor
de outras canções primorosas, foi o primeiro cantor a defender uma música de
Chico Buarque em festivais, pesquisou a fundo a música regional e ajudou a
revelar músicos e instrumentistas que hoje continuam em destaque no Brasil.
Sua carreira teve
êxito por um curto período, nos anos 1960; experimentou o sucesso e, pouco
tempo depois, desapareceu da mídia. Rodeado por mitos de loucura e tortura na
época do Regime Militar, Vandré é um homem recluso.
Poucas pessoas
poderiam abordar profundamente a vida e a obra do músico paraibano. O
jornalista paulistano Vitor Nuzzi, 51, autor da biografia "Geraldo Vandré
- Uma Canção Interrompida", é uma delas. Embora não tenha conseguido
autorização nem depoimento do compositor (que não manifestou nenhum interesse
nas tentativas de Nuzzi), o escritor pesquisou sobre ele durante oito anos,
entrevistou quase 100 pessoas e lançou poucos exemplares de forma independente
em junho deste ano. Agora, está fechando com uma nova editora para realizar um
lançamento de maior porte.
Em entrevista concedida ao caderno Vida, o jornalista
abordou os fatos essenciais na carreira de Vandré, como a participação no FIC
(Festival Internacional da Canção) da TV Globo, em 1968, seu retorno ao Brasil
após o exílio (passou pelo Chile, Alemanha e França) em julho de 1973, a falta
de indícios de ter sido torturado, seu desaparecimento do cenário musical,
entre outras coisas.
Que importância Vandré tem para a música brasileira? Muita
gente o conhece apenas como o compositor de "Pra não dizer que não falei
das flores", mas o que há além disso?
A obra de Geraldo Vandré é mais ampla do que "Pra não
dizer que não falei das flores" e "Disparada", suas obras mais
conhecidas, embora as duas sejam de inegável importância, verdadeiros divisores
de água da música popular. É preciso destacar o trabalho de Vandré como
pesquisador da cultura regional e da moda de viola. Também foi Vandré o
primeiro cantor a defender uma música de Chico Buarque em festivais, com
"Sonho de um Carnaval", na TV Excelsior, em 1965. E é dele a trilha
sonora de um dos grandes filmes brasileiros, "A Hora e a Vez de Augusto
Matraga", baseado em texto de Guimarães Rosa e dirigido por Roberto Santos
em 1966. Estamos falando do autor de algumas das mais belas canções da música
popular, caso de "Porta Estandarte", "Fica Mal com Deus",
"Canção Nordestina", "De Serra", de "Terra e de
Mar", "Pequeno Concerto que ficou Canção", "Terra
Plana", "Cantiga Brava", "Quem quiser Encontrar Amor",
entre tantas outras, além do intérprete marcante, com Ana Lúcia, de "Samba
em Prelúdio" (Baden Powell e Vinícius de Moraes). A carreira de Vandré é
relativamente curta, apenas cinco LPs, mas sua obra é significativa.
Hoje, aos 80 anos, como o músico é visto?
Penso que hoje prevalecem as lendas em torno de Vandré, que
prejudicam o conhecimento de sua obra artística. O seu afastamento do cenário
musical, desde os anos 1970, foi determinante para isso.
Gostaria que você citasse dois fatos essenciais na vida e na
carreira do Vandré.
A participação no FIC (Festival Internacional da Canção) da
TV Globo, em 1968, é um momento crucial para o artista Vandré e para o cidadão
Geraldo. Ali, ele deixou marcada para sempre sua presença na história, ao
cantar sozinho, para um Maracanãzinho lotado, sua mais conhecida canção. E a
consagração com "Pra não Dizer que não Falei das Flores" foi também o
fim do artista. O auge e o fim. Ele mesmo já declarou isso: depois dali, não
houve mais carreira. Vandré teve de deixar o país poucos meses depois, passando
mais de quatro anos no exílio. Outro fato importante foi exatamente o seu
retorno, em julho de 1973. Uma das condições para sua permanência foi uma
entrevista forjada ao Jornal Nacional, em agosto, um mês depois de sua volta. A
reportagem anunciava que ele voltava ao Brasil naquele momento, embora já
estivesse por aqui. Nessa entrevista, Vandré declara que pretende integrar à
nova realidade brasileira e fazer apenas canções de amor e paz. Ao se referir
ao próprio trabalho, diz que a arte às vezes é usada por grupos com interesses
políticos.
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